Bloco liderado pelo presidente da Câmara tem, agora, o apoio de 11 partidos, mas ainda não definiu quem será o seu candidato.
Reforço. Numa importante costura política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), conseguiu assegurar a adesão dos partidos de esquerda na disputa pela sua sucessão na Casa. Agora, o grupo reúne 11 partidos: DEM, PSDB, MDB, PT, PSL, PSB, PDT, Rede, Cidadania, PV e PCdoB. Ao todo, as legendas reúnem 281 deputados, mas é sabido que haverá dissidentes, especialmente no PSL, que ainda reúne uma fatia de parlamentares bolsonaristas. Mesmo assim, o bloco se consolida na disputa contra o líder do PP, Arthur Lira (AL), que conta com o apoio de Jair Bolsonaro.
Ele não. Foi justamente o risco de ver o presidente emplacar um aliado no comando da Câmara que fez com que os partidos de esquerda decidissem apoiar o grupo de Maia. "Hoje decidimos, PT e maioria dos partidos de oposição, integrar bloco na Câmara para a eleição da mesa, com diversos partidos que se posicionam pela democracia e contra Bolsonaro. Vamos apresentar um programa e construir um nome da oposição para a disputa da presidência da Casa", disse a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. "Temos muitas diferenças, mas não permitiremos que o Planalto anexe a Câmara. Venceremos", reforçou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
Somos a luz. No manifesto divulgado pelo grupo, que se apelidou de centro democrático, fica claro o objetivo de manter a Câmara longe da influência de Bolsonaro, reforçando o caráter de independência entre os poderes. "É inegável a projeção que a Câmara dos Deputados ganhou nos últimos dois anos. E é premente entender o porquê disso. Certamente há vários motivos, mas acreditamos que existe uma razão principal. Ganhamos relevância porque nos tornamos a fortaleza da democracia no Brasil; o território da liberdade; exemplo de respeito e empatia com milhões de cidadãos brasileiros. Porque enquanto alguns buscam corroer e lutam para fechar nossas instituições, nós aqui lutamos para valorizá-las. Enquanto uns cultivam o sonho torpe do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade. Enquanto uns se encontram nas trevas, nós celebramos a Luz". Um recado mais do que direto na direção do Planalto.
Resistência. Faz parte da estratégia do grupo liderado por Maia usar ao máximo o risco que a vitória de um aliado de Bolsonaro pode representar para a democracia. Mesmo votando uma pauta econômica bastante alinhada com a do ministro Paulo Guedes, Maia sempre funcionou como um contraponto às falas mais radicais de Bolsonaro. Especialmente quando ele voltou suas baterias contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Agora, Maia e seus aliados querem passar a mensagem que uma eventual vitória de Lira derrubaria essa resistência contra o autoritarismo.
Sem capachos. Por isso, essa defesa é destacada no manifesto. "Para manter a chama da democracia acesa, a Câmara deve ser livre, independente e autônoma, garantindo a nossa sintonia maior, com a sociedade e com o povo brasileiro. Esta não é uma eleição entre candidato A ou candidato B. Esta é a eleição entre ser livre ou subserviente; ser fiel à democracia ou ser capacho do autoritarismo; ser parceiro da ciência ou ser conivente com o negacionismo; ser fiel aos fatos ou ser devoto de fake news". Logo depois da apresentação do manifesto conversei com Rodrigo Maia sobre o conteúdo do documento. "É uma mensagem muito forte e clara", afirmou.
Mentiroso. A aliança do centro democrático surgiu justamente no dia em que Maia ocupou a tribuna da Câmara para rebater as acusações feitas por Bolsonaro contra ele. O presidente jogou na conta do deputado a responsabilidade por não ter sido aprovado o 13º salário para o Bolsa Família e para o BPC. Irritado, Maia chamou o presidente de "mentiroso" e afirmou que a proposta não foi votada porque o governo não quis. E ameaçou colocá-la em votação, já que o Planalto não via problema. A base governista foi obrigada a derrubar a sessão para evitar sustos, pois, de fato, a proposta não foi enviada porque o governo não quis. Como o próprio Paulo Guedes reconheceu. Ele lembrou que se o pagamento pelo segundo ano seguido do Bolsa Família sem provisão de recursos no orçamento para essa despesa caracterizaria crime de responsabilidade, pois custaria R$ 8 bilhões sem que se soubesse de onde o dinheiro iria sair.
Desgaste. Não pode passar despercebida a gravidade da situação. O presidente da República faz uma acusação falsa contra o presidente da Câmara apenas para não se desgastar com uma medida dura. E o presidente da Câmara sobe à tribuna para chamar o presidente de mentiroso. Gravíssimo. Mas com o fim do ano chegando e com as pessoas muito mais preocupadas com a vacina contra o coronavírus, a crise deverá ser administrada.
Falta o nome. Com a aliança fechada, falta agora para o centro democrático acolher quem será seu candidato. As opções seguem sendo o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), e o ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Mas os partidos de esquerda sinalizam que podem indicar um terceiro nome para ser escolhido. A tendência é que a definição seja feita na semana que vem. Mas ainda há muita articulação para ser feita, especialmente as que envolvem o Senado. Afinal, a eleição só acontecerá em fevereiro.