Desgastado por declarações desastradas, ministro recebe manifestação pública de apoio do presidente
Tamos juntos. Durante a solenidade de posse de seus novos ministros, Jair Bolsonaro fez seu primeiro gesto público de apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de ele ter dado duas derrapadas feias em declarações na semana passada. Sem se referir ao conteúdo das falas, o presidente as classificou como "possíveis pequenos deslizes". Mas, o mais importante, avisou que o ministro seguirá comandando a economia até o fim do governo.
Não pede para sair. No seu discurso, Bolsonaro afirmou que a participação de Guedes no governo foi fundamental para "a recuperação de confiança que o mundo não tinha conosco". "Se o Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais, como todos nós temos, e ele sofre ataques, é muito mais pela sua competência do que por possíveis pequenos deslizes, que eu já cometi muitos no passado. O que nós devemos aos ministros, e em especial ao Paulo Guedes aqui, é muito e nós reconhecemos isso aí. O Paulo não pediu para sair, mas eu tenho certeza que, assim como foi um dos poucos que eu conheci antes das eleições, ele vai continuar conosco até o nosso último dia. Paulo Guedes não é militar, mas ele é ainda um jovem aluno do Colégio Militar de Belo Horizonte. Muito obrigado por estar entre nós", disse o presidente em seu discurso.
Âncora. Bolsonaro sabe que seu governo, hoje, não tem como prescindir da liderança de Guedes na área econômica. Mas sabe que as falas do ministro foram muito ruins e causaram forte desgaste político. Na primeira, Guedes fez uma comparação na qual associou servidores públicos a parasitas. Poucos dias depois, criticou a cotação baixa do dólar que havia no passado, citando como exemplo que até empregadas domésticas estavam indo para a Disney. Guedes, claro, foi duramente criticado pelas declarações. Mas somente hoje Bolsonaro lhe deu respaldo público.
Além dos limites. O presidente procurou fortalecer Guedes justamente num dia em que ele próprio, talvez, tenha feito sua declaração mais absurda desde que assumiu o governo. Diante da tradicional claque de apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro ofendeu a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, fazendo insinuações maliciosas sobre o seu trabalho. "Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim", disse Bolsonaro.
Fake News. O presidente fez essa declaração quando comentava o depoimento de Hans River, feito na semana passada, na CPI das Fake News. Ex-funcionário da Yacows, uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, Hans disse que jornalista teria se insinuado para ele em troca de informações para fazer reportagem sobre o disparo de mensagens na campanha. Com a exibição de áudios e mensagens de texto, Patrícia desmontou a versão de Hans, que deverá ser convocado novamente pela CPI para se explicar. Mesmo sabendo disso tudo, o presidente preferiu repetir a história.
Desgaste. Na guerra de narrativas e de polêmicas que se acostumou a fazer, o presidente parece não se importar com eventuais desgastes políticos que possam ocorrer. Mas a repercussão negativa de sua ofensa à jornalista foi muito forte, dentro e fora do Congresso.