Bolsonaro pede desculpas, mas entorno mantém mensagem 'antiestablishment' | Por Vera Magalhães |
Tuíte de assessor especial da Presidência insiste em comparar instituições como o STF a hienas, mesmo depois de recuo do chefe. O que isso significa?
Das duas, uma. Ou o presidente fala uma coisa em público - até porque não pode se indispor com o Supremo Tribunal Federal enquanto seu filho Flávio depende de o plenário da Corte confirmar o entendimento que inviabiliza o uso de relatórios do Coaf em investigações sem autorização judicial - e autoriza sua equipe a manter a tropa mobilizada contra as instituições nos bastidores, ou de fato não controla nem o que o filho posta em sua conta nem o que seus assessores diretos emitem como opinião. Difícil saber qual das duas possibilidades é mais preocupante.
STF incomodado. Os ministros do Supremo estão irritados com a beligerância bolsonarista nas redes sociais. Veem método do presidente nos ataques sistemáticos ao tribunal, como instituição, e a seus integrantes, pessoalmente. Cobram de Dias Toffoli uma reação mais enérgica e voltada a mostrar ao presidente os limites que devem ser observados nas relações entre os Poderes.
Hedge. O presidente da Corte age como algodão entre cristais, mas demonstra que também ele se incomoda com os ataques à credibilidade do Supremo. Demonstrou isso ao propor que recursos especiais ao STJ e extraordinários ao STF não contem prazo para a prescrição criminal, uma espécie de "vacina" para demonstrar alguma preocupação com que a decisão de sustar as prisões após condenações em segunda instância não signifique licença para delinquir e sinônimo de que crimes vão prescrever sem que os condenados nunca cumpram pena - o que é o mais provável, pois parece ilusório imaginar que deputados e senadores vão mexer na prescrição para torná-la mais demorada.
Bolsonaro fala. Ao mesmo tempo em que pediu desculpas pelo vídeo em sua conta que o indispunha com o STF, Bolsonaro procurou moderar o tom em relação à Argentina. Em entrevista ao Estadão, disse que não vai romper com o país vizinho e que já estava preparado para a vitória de Alberto Fernández. Num claro contraponto a Bolsonaro, Rodrigo Maia parabenizou o presidente eleito da Argentina com um recado: é preciso respeitar a democracia dos outros países.