Bolsonaro: teste liberal na economia e perseguição à imprensa
| Por Vera Magalhães |
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Aumento do preço da carne é prova de fogo para liberalismo do presidente, que aumenta cerco à 'Folha' e sofre representação
Acabou a... O presidente está visivelmente desconfortável com a explosão do preço da carne bovina, que começa a puxar também o das demais proteínas animais. Por ele, ficou evidente, o governo daria uma mãozinha para o churrasco de fim de ano da firma não ficar tão salgado. Mas a ministra Tereza Cristina se apressou em explicar que não é assim que se toca a boiada.
... maminha. Ela diz que, agora, os solavancos de preço não devem ser tão grandes, mas a carne chegou a um novo patamar. O valor estava depreciado por conta da recessão interna, mas sofreu a pressão da retomada do consumo, do aumento das exportações (sobretudo para a China), da seca em determinadas regiões e da flutuação do dólar. Portanto, numa economia de livre mercado, não há o que fazer.
Vai pagar quanto? A ideia de criar um teto para os juros do cheque especial foi não tão liberal quanto o manual, embora o limite exista em pelo menos 76 países do mundo. O ideal, diz o cânone liberal, seria estimular a concorrência no setor bancário, forçando que a competição levasse o próprio mercado a baixar as taxas. Isso, dizem os integrantes da equipe econômica, deve vir mais adiante.
De liberal, nada. Enquanto enfrenta os dilemas da alta de preços que chegam direto ao bolso da classe média - e refletem na maior ou menor popularidade do governo -, Bolsonaro não hesita em demonstrar seu autoritarismo em outras áreas. O presidente anunciou boicote a anunciantes da Folha de S.Paulo. Mais: anunciou que o jornal estará fora de licitação para a assinatura eletrônica de jornais em órgãos do governo.
Freios e contrapesos. O Ministério Público junto ao TCU apresentou representação contra o presidente pela medida, dizendo que ela afeta os princípios da isonomia, da moralidade e da impessoalidade. Para o subprocurador Lucas Furtado, as razões de Bolsonaro para perseguir o jornal "desbordam os estreitos limites da via discricionária dos atos administrativos.