Psolista foi diagnosticado com o novo coronavírus nesta sexta-feira e cancelou compromissos finais da campanha; apoiadores lamentam ausência do último confronto.Surpresa final. A notícia de que Guilherme Boulos testou positivo para o novo coronavírus paralisou os últimos atos da campanha pela Prefeitura de São Paulo, sobretudo um dos mais aguardados: o debate entre ele e Bruno Covas na Globo. Era uma evento que apoiadores de Boulos vinham vendendo como a chance de uma virada do psolista sobre o tucano. Por isso, a despeito de as duas campanhas terem aceitado as regras segundo as quais em caso de doença de um dos candidatos não haveria debate, os militantes do PSOL e os eleitores do candidato passaram a fazer pressão pela realização de uma versão online do encontro, mesmo depois de a emissora informar seu cancelamento.
Narrativa. Rapidamente, o fato de Boulos ter contraído coronavírus depois de uma semana inteira de compromissos na rua e em emissoras de TV e de rádio, isso depois de ter estado com a deputada Sâmia Bonfim, que confirmou estar com covid-19 na segunda-feira, rapidamente foi substituído nas redes por uma narrativa em que a Globo era praticamente a responsável pela não realização do debate, como se não aceitasse realizá-lo online para ajudar Covas.
Temperatura. A não-realização do debate e a reação exacerbada a ele coroou o nervosismo da reta final da campanha em São Paulo. Um vídeo em que um carro com o número 45 e um jingle da campanha de Covas distribuindo cestas básicas na Brasilândia viralizou. Boulos pretendia usar a denúncia contra o adversário no debate da Globo. O PSDB negou que Covas tenha alguma ligação com a distribuição de cestas básicas em troca de votos.
Fatores em jogo. Também seria nova oportunidade de Boulos questionar Covas sobre o vice, Ricardo Nunes, e sobre o avanço da pandemia em São Paulo. Na nota em que comunicou ter testado positivo, o psolista chegou a atribuir o crescimento do número de casos e mortes à omissão dos governos. Sem o debate, a avaliação dos aliados dos dois lados é que pode faltar tempo para a alteração significativa das posições dos dois nas pesquisas.
Abstenções. Um dos fatores que preocupam os candidatos é a alta taxa de abstenção. No primeiro turno, em São Paulo, ela foi de recorde: 29,29%. Dados do TSE compilados para o BRPolítico mostram que o índice de abstenção foi variável de acordo com a faixa etária: maior nos eleitores acima de 65 anos, intermediário entre os votantes de 17 a 34 anos, e menor na faixa entre 35 e 65 anos, os mais assíduos e em maior número na pirâmide.
Incentivo. Os números trazem uma confirmação -- a de idosos, mais suscetíveis ao coronavírus, faltaram às urnas em maior número -- mas também uma surpresa: os jovens, faixa na qual Boulos supera Covas, faltam mais que seus pais no dia da eleição. Isso deverá reforçar o discurso pró-voto por parte dos psolistas, algo que os tucanos já vêm fazendo nas últimas semanas.