Ministro do Meio Ambiente sai do Twitter depois de novo embate com Rodrigo Maia, e vê Rosa Weber derrubar sua portaria sobre manguezais.Currículo. Em dois anos como ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles passou por dois acidentes ecológicos graves -- o rompimento da barragem de dejetos da Vale em Brumadinho e o vazamento de óleo no mar, ambos em 2019 --, assistiu recordes em dois anos consecutivos de desmatamento na Amazônia, viu o Pantanal arder e bichos morrerem incinerados, levou a Noruega a suspender o repasse bilionário para o Fundo Amazônia, ajudou a fazer com que o parlamento europeu desistisse do acordo comercial Mercosul-UE, teve várias decisões de sua pasta contestadas na Justiça, arrumou brigas com o vice-presidente, Hamilton Mourão, com o titular da Secretaria de Governo, Luiz Ramos, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse numa reunião que era necessário aproveitar a pandemia para "passar a boiada". Mas segue firme no cargo.
As últimas. A quarta e a quinta-feiras foram tomadas por novas lambanças de Salles, desta vez no plano no qual vem se especializando nas últimas semanas, o da fofoca. Depois da treta com Ramos, a quem chamou de "Maria Fofoca", ele esperou quatro dias para responder ao presidente da Câmara, que havia publicado em suas redes sociais que, não satisfeito em acabar com o meio ambiente, ele resolvera destruir o próprio governo. A resposta? "Nhonho", escreveu Salles. Nhonho? Sim, Nhonho. Nhonho? Isso. Trata-se de um personagem do humorístico mexicano dos anos 1980 Chaves. É o apelido pelo qual o opulento Maia é chamado por parte dos bolsomínions. E do ministro do Meio Ambiente.
Não fui eu. Diante da repercussão entre a galhofa e o assombro com seu tuíte, postando às 22h49 de quarta-feira, logo depois de Salles ter sido fotografado em Fernando de Noronha num convescote regado a várias garrafas de vinho com colegas ministros e auxiliares, Salles disse que "alguém" entrou em sua conta e postou por ele. E deletou sua conta do Twitter, ao menos temporariamente (o perfil e o número de seguidores ainda aparecem, mas as postagens, não). Acreditou quem quis.
Derrota no STF. Para além das polêmicas da quinta série, Salles também sofreu uma derrota de "adulto", no Supremo Tribunal Federal. Coube à ministra Rosa Weber, uma das mais discretas da Corte, conceder liminar derrubando os efeitos de portaria de Salles no espírito "passar a boiada", que mudava a legislação de proteção a manguezais e restingas e atendia a desejos do mercado imobiliário.
Tensão no ar. O dia foi quente no quesito fofocas. Rodrigo Maia, irritado com o vazamento de uma conversa sua com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o acusou de postura não condizente com o cargo por ter supostamente falado à imprensa. Campos Neto, um dos personagens mais low profile de um governo estridente, negou que tenha sido ele a propagar a conversa. Por que tanta tensão? Porque Maia está irritado com a dificuldade de fazer avançar a agenda de votações na Casa, graças à obstrução comandada por Arthur Lira, o comandante do Centrão e candidato à sua cadeira.
E Bolsonaro? E o presidente diante da paralisia legislativa do governo, da brigalhada entre Executivo e Legislativo, da tensão nos mercados com a nova onda de covid-19? Estava como gosta, em campanha. Em viagem pelo Maranhão, Bolsonaro promoveu aglomerações, desfilou sem máscara, abraçou e apertou a mão de eleitores e... soltou piadinhas homofóbicas (e sem a mínima graça). Diante da oferta de Guaraná Jesus, refrigerante típico do Nordeste, Bolsonaro achou engraçado brincar com o fato de a bebida ser cor-de-rosa para repetir, mais de uma vez, que ficaria "boiola" como os maranhenses se tomasse o refresco. É, até que o Nhonho de Salles não parece tão deslocado. E ajuda a entender a resiliência do ministro do Meio Ambiente diante deste governo.