Anúncio do governador de São Paulo pegou Planalto de surpresa e fez Bolsonaro ir às redes sociais para também prometer vacinas gratuitas quando forem aprovadas pela Anvisa.
Vacina já. Enquanto mundo político ainda assimilava o impacto do julgamento do Supremo Tribunal Federal, vedando a possibilidade de reeleição para os presidentes do Senado e da Câmara, o anúncio da data do início da vacinação contra o coronavírus era feito em São Paulo pelo governador João Doria. Mesmo sem ter ainda o sinal verde dos testes da fase 3 da Coronavac, o tucano anunciou que a vacinação em São Paulo começará a ser feita a partir do dia 25 de janeiro, de forma gratuita. Doria questionou porque os brasileiros precisarão esperar até março para se protegerem contra a doença, como prevê o Ministério da Saúde, quando poderão se vacinar a partir de janeiro. A mensagem foi transformada em slogan de campanha. Enquanto fazia o anuncio, uma mensagem instalada debaixo do púlpito que usava dizia: Vacina já. Antes, a frase era Use máscara. Uma clara percepção do sentimento da população que deseja se proteger definitivamente contra o vírus.
Mas pode? O problema é que, nesse caso, a Anvisa tem razão em alertar que ainda não existe a certificação da Coronavac, que ainda precisa ter a certificação da fase 3 dos testes, com comprovação de sua eficácia. O problema é que a agência, mesmo sendo técnica, é controlada por aliados fiéis de Jair Bolsonaro. E o governo paulista tem o pé atrás em relação ao comportamento que a agência vai adotar para certificar a Coronavac.
Pressão. Politicamente, Bolsonaro acusou o golpe de ver um possível adversário na corrida presidencial de 2022 fazendo um anúncio tão importante. Depois da surpresa com o movimento do tucano, Bolsonaro usou suas redes sociais para prometer também uma vacina gratuita para toda a população, mas desde que certificada pela Anvisa. De olho nos aliados mais radicais, o presidente ainda ressaltou que a vacinação não será obrigatória. Na prática, Bolsonaro pareceu mais estar tentando correr atrás de um prejuízo político e criando uma narrativa para não ficar em desvantagem.
Com que roupa? Só que o presidente foi completamente pego de surpresa e isso ficou claro ao longo do dia. Enquanto Doria falava claramente de uma data, o presidente participava de uma exposição das roupas que ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro usaram no dia da posse. Impossível ficar mais fora de sintonia do que isso.
Salve-se quem puder. No Congresso, a proibição para que Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia possam tentar um novo mandato à frente de Senado e Câmara disparou uma espécie de vertigem coletiva. Com o jogo sucessório completamente aberto de uma hora para a outra, postulantes ao comando das duas Casas pareciam brotar do chão. Como a eleição só acontece no dia 1 de fevereiro, é óbvio que esse processo passará por uma grande depuração. Mas, enquanto isso, sonhar é grátis, e os parlamentares colocaram seu bloco na rua para ter chance na disputa. Para se ter uma ideia desse movimento, só o MDB já tinha pelo menos quatro pré-candidatos a ocupar a cadeira de Davi Alcolumbre: Eduardo Braga, Eduardo Gomes, Simone Tebet e Fernando Bezerra. Outros partidos também produziam nomes aos borbotões num dia de ressaca política no Congresso.
Estratégia. Com a mudança de cenário, os profissionais entraram em campo. MDB, DEM e PSDB começaram a negociar a formação de um grande bloco para fazer o sucessor de Rodrigo Maia na Câmara. A ideia é que isso aconteça o mais rápido possível e que um nome seja logo escolhido como candidato. Nomes como os de Baleia Rossi (MDB), Aguinaldo Ribeiro (PP), Elmar Nascimento (DEM), Marcos Pereira (Republicanos) e Luciano Bivar (PSL) foram citados pelo próprio Rodrigo Maia como opções.
Eu nem queria. Maia minimizou a decisão do STF que o impediu de buscar uma nova reeleição. Ele assumiu pela primeira vez em 14 de julho de 2016, sucedendo Eduardo Cunha. O deputado DEM repetiu que não queria concorrer, mas reconheceu que até aliados pareciam não acreditar. Já Alcolumbre, no Senado, não escondeu sua decepção com o desfecho e com o comportamento do Planalto, que gostou da decisão do Supremo. Alcolumbre, que segue sendo um forte cabo eleitoral, registrou o fato.
Cargos por votos? Com o jogo aberto, Bolsonaro, mais do que nunca, também colocou seu time em campo. Nesse momento, está apoiando o deputado Arthur Lira (PP-AL), mas topa qualquer composição para que ocorra a vitória de alguém ligado ao seu grupo. Pode ser que tope, inclusive, antecipar uma reforma ministerial para abrir espaços na Esplanada em troca de apoio aos seu candidato. Com a poeira começando a baixar, esse cenário deve ficar claro quando as candidaturas começarem a ser oficializadas.