Em clima de confronto com João Doria, Ministério da Saúde se reuniu com governadores mas não há definição sobre o prazo para que a população comece a ser vacinada. Mortes diárias chegam a 842.
Sem cessar fogo. A guerra política pela vacina contra o coronavírus está complicando a busca por uma solução para a imunização rápida dos brasileiros. Depois de o governador de São Paulo, João Doria, anunciar, na segunda-feira, que a vacinação da Coronavac começaria a ser feita no dia 25 de janeiro para os paulistas, hoje o Ministério da Saúde reuniu os governadores para tentar impor uma estratégia nacional de vacinação liderada pela Pasta. Até aí, é o mínimo que se espera desde o início da pandemia. O problema é que o chamado para essa organização só começou a ser feita depois da pressão fortíssima liderada pelos governadores, preocupados com a lentidão e com a bagunça na montagem desse plano nacional de vacinação. E, claro, que essa roupa suja política foi lavada publicamente na reunião.
Tudo errado. O problema é que a busca pela vacina se transformou numa clara disputa política. De um lado, Doria querendo colher os frutos de ser o primeiro Estado a ter a vacina disponível, através da Coronavac. Do outro, Jair Bolsonaro não querendo colocar azeitona na empada de um provável adversário na disputa nacional de 2022. Enquanto Doria cobra pressa da Anvisa para que autorize o uso da Coronavac, o governo negocia prioritariamente a aquisição de outras vacinas e ignora a defendida pelo governador. E, no meio disso, está a população, que continua sem saber quando poderá se proteger.
Não custa lembrar... Enquanto as autoridades brigam sem definir quando e como teremos a vacina contra o coronavírus, o número de mortes registradas pela doença nas últimas 24 horas chegou a 842. Já não há mais dúvidas que o coronavírus voltou a se intensificar e se espalhar pelo Brasil, aumentando o número de casos e de mortes. E o País soma mais de 178 mil óbitos. Uma tragédia.
Lá fora já tem. E no Reino Unido a vacinação já começou a ser feita, priorizando as pessoas mais velhas. E essa agilidade para imunizar as pessoas contra o coronavírus ainda no mês de dezembro amplia o mal estar dentro do Brasil porque o governo faz previsões de começar esse trabalho apenas em março. Hoje, depois de mais pressão dos governadores, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, começou a dar um prazo menor, em torno de 60 dias. Mas participantes do encontro avaliam que é difícil saber o que se pode esperar do governo. Até porque, nos últimos meses, Bolsonaro sempre demonstrou enorme negacionismo em relação à doença. Somando isso à desorganização da estratégia nacional de vacinação, não é fácil apostar em bons resultados.
Brigalhada. Na reunião, Doria reclamou com Pazuello por não saber se conseguiria receber o aval da Anvisa para poder usar a Coronavac. E perguntou se essa posição tinha caráter político ou ideológico. De cara amarrada, o general reforçou que o governo só vai autorizar o uso de vacinas devidamente testadas e aprovadas pela Anvisa. E, é importante lembrar, os testes da Coronavac sequer terminaram.
A bola tá comigo. Pazuello deixou claro para todos os governadores que não aceitará soluções fora do plano nacional. E que o Ministério é quem vai centralizar a organização de todas as ações. "Compete ao Ministério da Saúde realizar o planejamento e a vacinação em todo o Brasil. Por isso o PNI (Programa Nacional de Imunizações) é um programa do ministério. Não podemos dividir o Brasil num momento difícil", afirmou o general.
Recado. E Bolsonaro também resolveu aumentar a temperatura da crise. Mesmo sem citar o nome de ninguém, mandou um recado dirigido a Doria. "O Brasil disponibilizará vacinas de forma gratuita e voluntária após COMPROVADA EFICÁCIA E REGISTRO NA ANVISA", ressaltou o presidente nas suas redes sociais. "Vamos proteger a população respeitando sua liberdade, e não usá-la para fins políticos, colocando sua saúde em risco por conta de projetos pessoais de poder", provocou.
Não está sendo fácil. Se a situação tem algum aspecto positivo é o de que a pressão imposta por Doria e pelos outros governadores fizeram o governo federal se mover. Os prazos terão de ser estabelecidos. O governo também concordou em discutir a compra de mais vacinas, o que aumentará a oferta de doses para os brasileiros. A situação do coronavírus representa um drama de proporções colossais. Com bagunça e disputa política no meio, fica tudo muito pior.