Ataques e cobranças públicas feitas pelo presidente provocam reação de 20 governadores que subscrevem carta com críticas ao presidente
Hora de reagir. Governadores de 20 Estados decidiram responder formalmente ao que consideram ataques injustos do presidente Jair Bolsonaro. Em carta pública, afirmam que as recentes declarações do presidente "não contribuem para a evolução da democracia no Brasil".
Pressão. Nas últimas semanas, Jair Bolsonaro tem disparado sua metralhadora na direção dos governadores e usado suas redes sociais para passar essas mensagens críticas. Como as redes bolsonaristas tradicionalmente fazem, a pressão sobre os governadores passou a ser muito forte. A gota d'água, porém, foi a postagem do presidente batendo no governador da Bahia, Rui Costa, por conta da morte do miliciano Adriano da Nóbrega. No texto, afirmava que Costa "mantém fortíssimos laços de amizade com bandidos condenados em segunda instância", numa referência ao ex-presidente Lula, e também associa a morte do miliciano a uma "queima de arquivo", que, segundo o presidente, seria "semelhante" ao caso da morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Mobilização. No fim de semana, os governadores trocaram telefonemas entre eles para acertar uma estratégia de resposta e conseguiram garantir 20 assinaturas para subscrever o documento contra o comportamento do presidente. Ficaram de fora governadores mais alinhados ao Planalto, como os de Goiás, Mato Grosso, Paraná, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins. Mas o número foi considerado expressivo o suficiente.
Mão pesada. No texto, os governadores decidiram carregar na tinta contra a atitude de Bolsonaro. "É preciso observar os limites institucionais com a responsabilidade que nossos mandatos exigem. Equilíbrio, sensatez e diálogo para entendimentos na pauta de interesse do povo é o que a sociedade espera".
Sequência. Antes do embate contra Rui Costa, Bolsonaro já tinha trombado com outros governadores, como João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ), por razões políticas, já que o presidente enxerga ambos como postulantes ao Planalto em 2022. Mas Bolsonaro também jogou no colo de todos os governadores a conta pelo preço da gasolina não baixar nas bombas. Pressionado pelas suas bases pelo alto preço, o presidente afirmou que a responsabilidade era dos Estados, que cobravam ICMS muito elevado. Mesmo isso sendo verdade, Bolsonaro sabe que o governo federal também cobra impostos que elevam esse preço e que os Estados e a União não têm condição de abrir mão de qualquer receita.
Porta aberta. Apesar do tom elevado, os governadores sinalizaram com uma bandeira de trégua para o presidente no documento. Eles fazem um convite formal para que Bolsonaro participe do próximo Fórum Nacional de Governadores, em 14 de abril, para buscar soluções para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Se isso vai garantir uma trégua real, ainda é cedo para prever. Até porque o presidente tem dado seguidas provas de que se move conforme a direção dos ventos que sopram nas suas redes sociais. Mas os governadores mostraram que pretendem reagir ao presidente se as críticas continuarem.