Governo disperso: troca ministerial em meio à correria desorganizada pela vacina | | Além de demitir ministro do Turismo em meio à indefinição sobre imunização, Bolsonaro ainda atira em questões não prioritárias, como zerar imposto sobre importação de armas.
Salve-se quem puder. Na semana passada, meu companheiro de BRPolítico Marcelo de Moraes descreveu o clima de barata voa vivenciado em Brasília. De lá para cá, a quantidade de insetos voadores nos céus da capital federal só fez aumentar. Depois de a iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, de anunciar a vacina com a Coronavac para 25/1 desencadear uma corrida desorganizada do governo Jair Bolsonaro por uma vacina que ainda não tem, fatos alheios à pandemia fizeram o Executivo dispersar esforços.
Ministro fora. Como se não houvesse uma emergência sanitária sem nenhum plano concreto para vacinação em prática, os ministros de Bolsonaro resolveram lavar roupa suja, algo que adoram fazer. Depois de o titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, espinafrar o colega palaciano e general Luiz Ramos no grupo de WhatsApp dos ministros, sua situação ficou insustentável e ele caiu. Foi substituído interinamente pelo dublê de sanfoneiro e presidente da Embratur Gilson Machado. Mas a cadeira está colocada na roda das negociações para a presidência da Câmara e do Senado.
Laranja cai do pé. Álvaro Antonio resistiu no posto por quase dois anos, mesmo diante de evidências de que a seção do PSL de Minas, comandada por ele, foi o principal laboratório do laranjal de candidaturas de mulheres do partido em 2018. Isso, na ética bolsonarista, não é razão para perder o cargo. Mas os ataques a Ramos foram pesados e públicos: o mineiro chamou o general de "traíra". Como Bolsonaro já havia mantido Ricardo Salles depois de o titular do Meio Ambiente chamar o mesmo Ramos de "Maria Fofoca", segurar um novo detrator (ops) seria desmoralização demais até para os padrões cada vez mais elásticos dos ministros generais.
Na roda. Enquanto o sanfoneiro esquenta a cadeira, o Turismo está posto na mesa de negociações para fazer maioria pelos candidatos do Planalto no Congresso. Um grupo ligado a Davi Alcolumbre pleiteia a vaga para o deputado Roberto Lucena (Podemos), da bancada evangélica. Isso aglutinaria os votos do Podemos em torno do candidato de Alcolumbre para sua própria sucessão no Senado.
Tapete verde. Enquanto isso, na Câmara, a disputa vai se mostrando mais renhida. O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro, oficializou sua candidatura e avança em tentativas de acordo com várias bancadas, inclusive com a esquerda, prometendo mundos e fundos em troca de apoio, de lugares na estrutura da Casa até mudanças em leis como a da Ficha Limpa para tentar atrair o PT. Não deixa de ser irônico e emblemático que a esquerda cogite apoiar o candidato de Bolsonaro em troca de promessas nada republicanas. Lira fechou um apoio importante, o do PL, que estava dividido entre ele e o candidato que venha a ser lançado por Rodrigo Maia. Para isso, se comprometeu a dar a primeira vice-presidência para o deputado Marcelo Ramos (AM), que foi relator da reforma da Previdência.
Divisão do outro lado. Enquanto isso, no time de Maia, o jogo ainda não está claro e a divisão aumenta. O presidente da Câmara subiu o tom contra o governo. Disse que Bolsonaro está "desesperado" para ter a presidência da Câmara para poder tocar a pauta de desmonte da política ambiental, a agenda armamentista e de costumes. Também fez pesadas críticas às promessas não cumpridas de Paulo Guedes, dizendo que elas dariam um livro de três volumes.
E a vacina? Com tanta cortina de fumaça política (Bolsonaro ainda encontrou tempo para assinar um decreto zerando o imposto de importação de armas), quase dá para esquecer que existe uma pandemia. Só que não. O ministro Pazuello seguiu sua correria para mostrar algum controle da situação. Na CNN, insistiu que o Brasil pode ter vacina em "dezembro ou janeiro", sem fazer menção ao fato de que a vacina de Oxford, a única com a qual o governo brasileiro tem um protocolo de fornecimento assinado, está atrasada e enfrentando novos reveses a cada dia. E que a da Pfizer, para a qual ele olha agora, requer uma logística de armazenagem e distribuição cara e complexa para a qual o Ministério da Saúde não tomou nenhuma providência. | | Dá para desenrolar a vacinação, ministro? No dia 21 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, levou uma enquadrada pública de Jair Bolsonaro por ter anunciado um protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac. Depois disso, num vídeo constrangedor, gravado ao lado do presidente, enquanto se recuperava da Covid, deixou claro seu modus operandi na condução da Pasta: "Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar", afirmou. Leia Mais | VOCÊ TAMBÉM PRECISA LER Mandetta alerta que plano de Pazuello é 'igualzinho ao da gripe' Em conversa com o BRP, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta lamentou nesta quarta, 9, a falta de um plano nacional de vacinação para imunizar a população brasileira de forma célere e científica contra a covid-19, uma vez que duas importantes agências reguladoras de saúde no mundo, a dos EUA e do Reino Unido, deram sinal verde para o imunizante produzido pela Pfizer. Segundo o médico, o Plano Nacional e Imunização apresentado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é uma cópia do plano de vacinação da gripe. Leia Mais Maia: 'Zerar Imposto de armas é uma distorção de prioridades por parte do governo' O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou a importância dada pelo governo à redução a zero da alíquota para importação de armas. Para ele, o governo erra nas prioridades que escolhe, quando devia estar cuidando preferencialmente do combate ao Covid-19. Leia Mais BRP Pergunta: Após encalhe, governo tem interesse em testar população? Para o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, a reunião técnica realizada na manhã desta quarta, 9, com parlamentares e representante do Ministério da Saúde para falar da destinação dos kits de teste de covid-19 com validade a vencer deixou mais dúvidas que respostas. O Estadão revelou que cerca de 7 milhões de unidades estavam paradas em galpão da pasta em Guarulhos. Leia Mais |
|