Pazuello desmente informação de Caiado de que governo vai 'requisitar' e centralizar vacinas produzidas no Brasil, mas anuncia verba de R$ 20 bi para insumos e compra de imunizantes.
Que bagunça! A sexta-feira foi mais um dia de bagunça nas notícias sobre a preparação claudicante do governo federal para a campanha de vacinação contra o novo coronavírus. O governador Ronaldo Caiado (DEM), aliado do governo, tuitou que conversara com o ministro Eduardo Pazuello e ele havia anunciado a disposição do governo federal de centralizar a política de imunização brasileira, por meio de uma medida provisória. "Toda e qualquer vacina certificada que for produzida será requisitada pelo Ministério da Saúde', escreveu Caiado.
Oi? A postagem originou um telefone sem fio entre políticos e a imprensa. Pela postagem, muitos entenderam que o governo estava disposto a "empastelar" a vacina produzida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Diante da repercussão, o ministério divulgou já à noite que não estava cogitando "confiscar" ou requerer vacinas que eventualmente venham a ser adquiridas pelos Estados. "Reiteramos que em nenhum momento o Ministério da Saúde se manifestou sobre o confisco ou requerimento (sic) de vacinas adquiridas pelos Estados".
Reações. A negativa da pasta do general Pazuello veio depois que o governador de São Paulo, João Doria Jr., se manifestou contra a possibilidade de "confisco" das vacinas produzidas no Butantan. Caiado, em entrevistas a jornais, havia reiterado o teor de sua postagem, dizendo que a MP do governo teria por objetivo evitar a diferenciação entre unidades da federação. Só se esqueceu de que São Paulo investiu dinheiro em convênio para o desenvolvimento da vacina e para sua produção.
Bastidores. Aliados de Caiado asseguram que a ideia de "centralizar" a distribuição de vacinas foi realmente aventada por Pazuello no encontro de cerca de uma hora que o governador e o ministro tiveram nesta sexta-feira em Goiânia. Teria partido de Bolsonaro a cobrança sobre o general para a centralização, de forma a evitar uma vitória política de Doria e o "caos social", com brasileiros saindo de todos os Estados rumo a São Paulo para se vacinar.
Sem noção. As idas e vindas nos anúncios do Ministério da Saúde ao longo de toda a semana evidenciam que a pasta não tem a menor ideia de como vai montar a logística da vacinação, e nem quando e de onde obterá doses de algum imunizante atualmente em fase de finalização para distribuir no país. Depois da confusão de Caiado. o governo correu para anunciar uma cifra, de R$ 20 bilhões, que seria usada na aquisição de vacinas e insumos para sua aplicação e distribuição.
Correria. Pazuello disse que o governo vai adquirir inclusive a Coronavac, antes criticada pelo presidente, e que supostamente terá a fase 3 de estudos clínicos anunciada na semana que vem.
Ficha que cai. Parece que, aos poucos, a ficha de que a vacina é um clamor nacional vai caindo para Bolsonaro e seus auxiliares. O presidente teria participado de duas reuniões de duas horas sobre o tema. Mas na véspera, em sua infernal live semanal, o capitão não só não mencionou o assunto como voltou a fazer propaganda de cloroquina e a pregar contra o distanciamento social. Para confirmar que o governo Bolsonaro segue na trilha do negacionismo basta conferir a manchete desta sexta do Estadão, sobre a destinação de R$ 250 milhões para a distribuição do chamado "kit covid", com hidroxicloroquina e azitromicina, entre os itens da Farmácia Popular.