Nova crise opõe governo e Legislativo depois que conversa do general com colegas 'vazam' pelo sistema de som do Planalto
'Esses caras'. Era para ser um desabafo com Paulo Guedes (Economia) e o também general Luiz Ramos. Para o general Heleno, o governo não pode aceitar que "esses caras", forma como se referiu a deputados e senadores, continuem a "chantagear" o Executivo por meio das votações, para obter recursos do Orçamento. A solução preconizada por ele foi conclamar o povo para ir às ruas apoiar o governo e pressionar os congressistas.
E a privacidade? Depois que sua fala vazou pela transmissão ao vivo do próprio Planalto, o general foi ao Twitter dizer que a manifestação era pessoal e não refletia a posição do presidente nem dos outros setores do governo. Reclamou da falta de privacidade, se esquecendo de que estava numa solenidade, que o "vazamento" foi do próprio sistema de som do Planalto e que, como responsável pela inteligência do governo, deveria tomar cuidado com as próprias declarações.
Protesto? Só a favor. A fala de Heleno também mostra a maneira como expoentes do governo Bolsonaro encaram manifestações. Se são a favor do governo, tudo bem. Mas a simples possibilidade de que haja protestos contra o governo leva autoridades como Heleno e o filho de Bolsonaro, Eduardo, a aventarem a possibilidade de reprimi-los violentamente ou por medidas de exceção.
Reação. Como era previsível, a reação do Congresso foi imediata. Rodrigo Maia lamentou o fato de Heleno ter se tornado um "radical" ideológico. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, disse que o parlamento não vai tolerar mais nenhum ataque à democracia.
Moro x Lula. A Polícia Federal interrogou o ex-presidente Lula a respeito de declarações feitas por ele contra Bolsonaro ao sair da prisão. A solicitação para que ele fosse interrogado veio do ministro Sérgio Moro (Justiça), que quer que o petista seja enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O PT protestou contra a convocação e a possibilidade de novo indiciamento do ex-presidente.
Motim no Ceará. E como notícia bizarra virou rotina no Brasil, o senador Cid Gomes (PDT) foi baleado em Sobral (CE) por policiais militares amotinados ao tentar arrombar um portão e entrar num batalhão onde os grevistas estavam aquartelados. Ele levou dois tiros que, inicialmente, se divulgou que eram de balas de borracha e, depois, se soube que eram de arma de fogo. Ele foi transferido para Fortaleza depois de passar por estabilização no hospital de Sobral. O governador do Estado, Camilo Santana (PT), pediu a Moro o envio de homens da Força Nacional de Segurança para policiar o Estado durante a greve.