No dia em que pesquisa mostra queda de cinco pontos na sua avaliação, presidente diz que se houve exageros "foi no afã de buscar solução".
Paz e amor. Com a pressão pela vacinação contra o coronavírus cada vez maior, Jair Bolsonaro adotou um tom mais comedido e conciliador para tratar do assunto. Trata-se de pura estratégia. No dia anterior, fizera um discurso inflamado na Ceagesp, disparando contra adversários. De quebra, ainda afirmou em entrevista à José Luiz Datena, que não se vacinaria. Mas a política de palanque precisou ser colocada momentaneamente de lado por conta do aumento expressivo do número de casos e de mortes pelo Covid. Os 968 óbitos nesta quarta serviram para Bolsonaro baixar o tom e ressuscitar o estilo paz e amor.
Pesquisa ruim. Além disso, pesquisa CNI/Ibope mostrou que o presidente perdeu, desde setembro, cinco pontos porcentuais na sua avaliação, tendo, agora 35% de ótimo e bom. O fim do pagamento do auxílio emergencial e o comportamento negacionista diante da pandemia começaram a cobrar uma fatura política. Conta, aliás, que já tinha aparecido nas eleições com a derrota da maioria dos candidatos apoiados por Bolsonaro. Para conter esse desgaste, o presidente amainou o discurso. Pelo menos, por enquanto.
Hora de união? Ao lado de vários governadores, inclusive alguns de oposição, Bolsonaro pregou união no combate à pandemia. Ele promoveu uma solenidade de apresentação do Plano Nacional de Vacinação e falou de um jeito que quase - apenas quase mesmo - pareceu um pedido de desculpas. "A grande força que todos nós mostramos agora é união para buscar solução de algo que nos aflige há meses. Se algum de nós extrapolou ou até exagerou foi no afã de buscar solução", afirmou o presidente. E emendou: "Nós todos irmanados estamos na iminência de apresentar uma alternativa concreta para nos livrarmos desse mal, que é o plano nacional de operacionalização da vacinação contra a covid-19", prometeu.
Não é para valer. A mudança de Bolsonaro relembra a mesma tática adotada no auge de sua crise com Congresso e Supremo Tribunal Federal no meio do ano. Com a ameaça de sofrer algum tipo de sanção do Judiciário, o presidente pisou no freio ao ver vários de seus aliados mais radicais serem punidos criminalmente. Na época, também ampliou sua aproximação com o Centrão para se blindar politicamente contra um eventual pedido de abertura de impeachment. Quem conhece o presidente dos seus tempos de parlamentar, sabe que a estratégia é recorrente. Sempre que ultrapassava algum limite nos seus ataques, adotava um recuo momentâneo para preservar o mandato. Agora, repete o movimento.