Alta rotatividade na cozinha de Bolsonaro mostra dificuldade na costura política, que tem reflexos no Congresso
Cai o rei de espadas... Onyx Lorenzoni levou o bilhete azul na Casa Civil. Jair Bolsonaro fritou de um lado, fritou de outro e depois de o gaúcho estar bem tostado decidiu substitui-lo por mais um general: convidou Walther Braga Neto para o cargo, e deve deslocar o deputado para outra pasta, mais distante do núcleo de poder.
... cai, não fica nada. Com a altíssima rotatividade no Planalto, que concentra a "cozinha" do governo e comanda a coordenação política, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, é o último dos moicanos do núcleo duro original de Bolsonaro. Já foram incinerados Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz, aliados de primeiríssima hora.
Mal agradecido? O ministro que cai agora foi o primeiro deputado de alguma relevância a apoiar o "capitão" quando ele ainda era o rei do baixo clero. Foi, justamente por isso, um dos primeiros ministros a serem anunciados. Sua devoção a Bolsonaro é tamanha que foi encontrar Olavo de Carvalho em plenas férias. Costuma embargar a voz e marejar os olhos ao defender o "capitão". Agora, pode ser alocado no combalido Ministério da Cidadania. O atual titular, Osmar Terra, também gaúcho, deve receber outro prêmio de consolação.
Desarticulação. Com todo esse troca-troca em postos-chaves do governo no início do segundo ano de Bolsonaro, o barata-voa é a tônica no Congresso. A insatisfação com o governo ficou patente na sessão do Congresso que tentou, sem sucesso, analisar vetos de Bolsonaro, entre eles o feito ao dispositivo que torna impositiva a execução das emendas parlamentares ao Orçamento. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), costurou um adiamento da discussão dos vetos para depois do carnaval e convocou uma reunião de líderes para debater o assunto, mas a disposição, principalmente entre os deputados, é de derrubar o veto.
Fake News. A confusão na sessão do Congresso dividiu espaço, no Congresso, com a reação indignada de deputados e senadores à constatação de que Hans River, ex-funcionário de uma empresa especializada em disparos em massa de WhatsApp para políticos, mentiu em depoimento na véspera ao negar que tivesse fornecido documentos à repórter Patricia Campos Mello, da Folha, e ao difamá-la afirmando que ela tentou seduzi-lo para obter informações. As duas declarações foram desmentidas por documentos divulgados por ela, como prints e áudios de conversas.
Reação. Mais de 2.400 jornalistas mulheres assinaram um manifesto de repúdio à tentativa de destruir a reputação da jornalista, que foi endossada por parlamentares bolsonaristas, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, que foi à tribuna da Câmara repetir as insinuações mentirosas de cunho sexual contra a jornalista. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lembrou que mentir a uma CPI é crime. A OAB e outras entidades também repudiaram o expediente.