Disparada de casos de Covid no Amazonas sobrecarregou UTIs, que entraram em colapso sem oxigênio. Doentes começam a ser transferidos para unidades de outros Estados.
Fundo do poço. Quando parecia que o Brasil já tinha visto todas as nuances possíveis da tragédia provocada pela pandemia do coronavírus, mais um terrível acontecimento chocou o País. Em Manaus, os casos da doença dispararam nas últimas semanas e sobrecarregaram as UTIs dos hospitais. Com isso, acabou o estoque de oxigênio e pacientes começaram a morrer asfixiados nesta quinta-feira.
Desespero. Vídeos de médicos e funcionários de hospitais desesperados pelo problema começaram a circular pelas redes sociais mostrando o drama. O Hospital Universitário Getúlio Vargas, por exemplo, passou a manhã inteira sem oxigênio. Outros tiveram a mesma situação. Com a tragédia em curso, o governo do Amazonas pediu socorro aos vizinhos e começou a transferir seus doentes com Covid para hospitais de outros Estados para tentar se desafogar. Os pacientes foram transferidos para Goiás, Piauí, Maranhão, entre outros locais. Ainda não há números oficiais sobre o número de mortes causadas pela falta do oxigênio.
Sempre pode piorar. Para complicar ainda mais a situação, não havia um avião disponível, com os requisitos técnicos necessários, que pudesse levar oxigênio para Manaus. Foi solicitada, então, ajuda aos Estados Unidos, para que cedessem uma aeronave Galaxy para essa operação.
Cadê a logística? Na época da sua nomeação para o Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello foi saudado como um especialista em logística. Depois de fracassar na compra de seringas e agulhas, de não conseguir organizar um plano nacional de vacinação e de ter fechado acordo prévio para a compra de apenas uma das vacinas contra o coronavírus, Pazuello pode acrescentar mais essa bola nas costas ao seu cartel. Sem insumos, sem oxigênio, sem avião para buscar o material, a logística não existiu no drama de Manaus.
Mas cloroquina tem. Pazuello e sua equipe tinham ido a Manaus na segunda-feira, justamente pelo drama que a capital do Amazonas já vivia no combate ao Covid. E, pelo jeito, não notaram a possibilidade iminente do colapso pela falta de insumos para o tratamento, como foi o caso do fim do estoque de oxigênio. Apesar disso, integrantes do Ministério não perderam a chance de cobrar das autoridades locais de saúde que passassem a adotar o protocolo recomendado pela Pasta para tratamento precoce contra o coronavírus. Tratava-se de uma orientação sem qualquer utilidade, já que o tratamento precoce do Ministério recomenda o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia no combate da doença, como a cloroquina e a ivermectina. Obviamente, foi ignorada. Mas serviu de munição para balbúrdia nas redes bolsonaristas.
Chegou a conta. Nos últimos dias de 2020, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), já tinha sido alertado para a gravidade do aumento da incidência do Covid, em Manaus e em outras cidades do Estado. Por isso, chegou a determinar um lockdown na capital, liberando apenas os serviços essenciais. Mas a pressão do comércio e de outros setores, insuflados por políticos, desencadeou uma onda de protestos e Lima foi obrigado a recuar da decisão e liberar todas as atividades. Menos de três semanas depois, começam a aparecer as consequências de as medidas de restrição não terem sido adotadas. Hoje, com a tragédia instalada, Lima anunciou nova proibição de circulação e de funcionamento do comércio em Manaus. Agora, a questão é correr para tentar reduzir os danos.
Dia D. O drama de Manaus ofuscou o movimento do governo federal para anunciar, finalmente, a data do início da vacinação contra o coronavírus. Para prefeitos, Pazuello sinalizou que ela poderá começar a ser feita no dia 20, com direito à bateção de bumbo no Palácio do Planalto.