Trump para Bolsonaro: 'America first'
| Por Vera Magalhães |
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Presidente dos EUA anuncia tarifa extra para aço e alumínio brasileiros e argentinos. Ué, acabou o amor?
Amigos, amigos... O anúncio da sobretaxa foi feito por Trump pelo Twitter, e pegou de surpresa Bolsonaro, o Itamaraty e o Ministério da Economia. A resposta inicial do presidente brasileiro foi tímida: disse que tem canal direto com o colega norte-americano e, se preciso, ligaria para ele. À noite, em entrevista à TV Record, disse que caberia a Paulo Guedes negociar com os Estados Unidos, mas que, se não tivesse êxito, entraria no circuito
.. negócios à parte. Trump usou como justificativa para sobretaxar os produtos siderúrgicos do Brasil e da Argentina o fato de o real estar depreciado em relação ao dólar, como se isso fosse uma política deliberada dos governos dos dois países para favorecer exportações de produtos agrícolas brasileiros. Na verdade, a medida tem um claro viés eleitoreiro: Trump tenta agradar aos fazendeiros norte-americanos e aos Estados do chamado "cinturão enferrujado", que concentram indústrias siderúrgicas.
Amor já foi. Mais essa bola nas costas da diplomacia brasileira mostra que declarações de amor ideológicas têm pouca ou nenhuma valia em comércio exterior. O Brasil anunciou uma série de concessões unilaterais aos Estados Unidos e, até agora, não teve nenhum dos seus pleitos (entrada na OCDE, fim de barreiras sanitárias à carne brasileira) atendidos.
Tom ameno. Bolsonaro concedeu entrevista à Record em que procurou mostrar um tom mais ameno em relação a suas declarações e decisões recentes. Disse que pode voltar atrás no veto que impôs à Folha de S.Paulo para a participação em pregões eletrônicos caso se comprove que a medida é ilegal ou "fere a ética", embora tenha mantido críticas a vários veículos. Minimizou declarações de Paulo Guedes e do filho Eduardo sobre o AI-5, creditando-as à "liberdade de expressão", e afirmou que chegaram a "pedir a cabeça" do ministro da Economia por conta da fala, sem entrar em detalhes.
Olavetes na Cultura. Na entrevista em que procurou demonstrar serenidade, Bolsonaro não falou sobre as nomeações de "olavetes" para cargos de chefia na área da Cultura. Designado secretário do setor, o dramaturgo Roberto Alvim, que já xingou Fernanda Montenegro, aparelhou órgãos como a Funarte e a Biblioteca Nacional com simpatizantes do polemista da Virgínia. O maestro e youtuber Dante Mantovani, designado para a Furnarte, já disse em vídeos no seu canal que o rock induz ao satanismo, ao consumo de drogas e ao aborto. Rafael Nogueira, novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, também é seguidor de Olavo, monarquista e partidário da tese de que a proclamação da República foi um golpe de Estado.
Massacre. Em São Paulo, a segunda-feira foi marcada pelos desdobramentos da morte, por pisoteamento, de 9 jovens em um baile funk na noite de sábado na favela paulistana de Paraisópolis. O governador João Doria defendeu a ação da Polícia Militar, dizendo que ela seguiu o "protocolo" para esse tipo de situação. Vídeos divulgados nas redes sociais, no entanto, mostram a polícia agredindo jovens frequentadores do baile, acuando outros em becos e vielas e usando gás lacrimogênio. Doria disse que os procedimentos serão apurados.