O PSDB governa São Paulo desde 1º de janeiro de 1995. Nesse intervalo, por duas vezes, a capital escolheu um nome do partido para o comando da prefeitura. Mas ambos os prefeitos e todos os governadores, em algum momento e por motivos distintos, entregaram o cargo para o vice. Por isso, Bruno Covas não deveria se surpreender com questões sobre a escolha de Ricardo Nunes para a chapa que tentará administrar a maior cidade do país pelos próximos quatro anos.
A exemplo do avô, Mario Covas, o atual prefeito enfrenta um câncer que pode vir a ser fatal. A exemplo de José Serra e João Doria, precisa garantir que não abandonará o posto para alçar voos maiores menos de dois anos depois. E, a exemplo de Gilberto Kassab, tenta renovar o mandato de prefeito herdado de um tucano que abandonou a prefeitura com menos de 16 meses de trabalho.
A oposição tanto sabe disso que não se cansa de usar o domínio que possui sobre as redes sociais para alertar o eleitor do risco de o tucano deixar a prefeitura para Nunes, um nome conhecido por apenas 6% dos que prometem voto a Covas. Por vezes, com auxílio da imprensa, que enxerga uma justa relevância no tema.
PSDB
2006 – Serra deixou a prefeitura pro vice Kassab; Alckmin deixou o governo para C. Lembo
2010 – Serra deixou o governo pro vice A. Goldman
2018 – Alckmin deixou o governo pro vice M. França; Dória deixou a prefeitura pro vice Bruno Covas
Vc sabe quem é o vice do Bruno Covas?— André Pontes (@andrepontes) November 19, 2020
Como se não bastasse o histórico do PSDB com vices, Nunes anexa à campanha uma porção de manchetes negativas sobre violência doméstica, máfia das creches e, mais recentemente, o receio de surgir em público prejudicando o atual prefeito.
No momento, Ricardo Nunes, vice de Bruno Covas, é a pessoa que mais respeita o isolamento social em São Paulo
— Blog do Noblat (@BlogdoNoblat) November 25, 2020
Do outro lado da disputa, Guilherme Boulos não se cansa de enaltecer a figura de Luiza Erundina, a quem chama de melhor prefeita da história da cidade — sem qualquer contestação relevante da parte do adversário, o que pode ser considerado mais um deslize.
"Eu não escondo apoio. O Bruno Covas esconde o Dória a sete chaves. O Dória que é o padrinho dele e só tá na prefeitura porque o Dória abandonou a cidade. Eu não escondo vice, tenho grande orgulho da minha vice Erundina." #BoulosNaCBN #ViraSP50
— Guilherme Boulos 50 (@GuilhermeBoulos) November 25, 2020
Uma busca no perfil de Bruno Covas não retorna qualquer menção no Twitter ao nome do vice do prefeito.
É verdade que a coligação com 11 partidos garantiu a Covas um valioso tempo de TV que o empurrou ao segundo turno como favorito. Mas, nessa altura do campeonato, impera a sensação de que foi mais certeira a opção do PSOL por uma vice que agrega argumentos a favor da candidatura.
Tanto que aliados de Covas passaram a investir em expedientes mais questionáveis, como o compartilhamento de vídeos que fortalecem a imagem de Boulos como uma liderança radical. Mudança tão brusca na conduta de quem apostava numa campanha propositiva denota que o tucanato já não mais confia que a reeleição estaria garantida sem um esforço extra. E o risco nem vem exclusivamente das dúvidas sobre Nunes, mas também (ou principalmente) de uma eventual abstenção mais alta da parte dos que prometem reeleger o prefeito.